Eu acho que esse é o tipo de
assunto que sempre me faz borbulhar de nervoso e quis de fato tirar um tempo
para escrever sobre isso, porque até certo ponto ser mulher não deveria ser um
problema, já que todo homem e toda mulher é uma estrela. Mas, mesmo em pleno
Aeon de Hórus, somos confrontadas com adjetivos pejorativos, uma tendência,
mesmo que inconsciente, de sermos julgadas inferiores. Thelema em meu ponto de
vista é algo completamente equilibrado no sentido mágicko e filosófico e assim
deveria ter sido, exceto por um comentário de Crowley no Liber Aleph:
“Eu te conjuro, não importa quão
sejas provocado a fazê-lo, nunca digas a Verdade a uma Mulher. Pois isto é
aquilo que está escrito: Não atires tuas Pérolas aos Porcos, para que eles não
se voltem contra ti e te despedacem. Vê, na Natureza da Mulher não há Verdade,
nem Percepção da Verdade, nem Possibilidade de Verdade; apenas, se tu lhes
confias esta Joia, elas imediatamente a usam para tua Perda e Destruição. Mas
elas estão [cônscias] de teu Amor pela Verdade, e teu Respeito por esta; por
isto elas te tentam, lisonjeando com seus Lábios, para que tu te reveles a elas.
E elas fingem falsamente, com todas as Astúcias, e saem à pesca de tua Alma,
até que em Amor, ou em Cólera, ou em alguma outra Tolice dessa Alma, tu dizes a
Verdade, profanando teu Santuário. Assim foi sempre, e disto Eu chamo como
Testemunha Sansão de Tomnath, que se perdeu por este Erro. Agora, para qualquer
Mulher qualquer Mentira serve; e não penses em teu Perigo que a Verdade é
poderosa, e prevalecerá, como faz com qualquer Homem; pois com uma Mulher, sua
inteira Astúcia e Ardil é te persuadir disto, para que tu pronuncies o Segredo
da tua Alma, e te tornes Presa dela. Mas enquanto tu a nutres com sua própria
Comida de Falsidade, tu estás seguro.” – Aleister Crowley, Liber Aleph.
Isso pode ser dito por muitos
motivos, acompanhando o diário de Frater Achad, algumas vezes ele teve
problemas em suas práticas por causa de interrupções de sua esposa, o que
poderia ter sido um motivo para que Crowley dissesse algo como isso, não
apaziguando a coisa toda, logo que a afirmativa é extremamente forte, de uma
enorme falta de senso, dizer que a mulher é totalmente incapaz e débil em compreender a verdade. Mas, ainda assim, isso não faz nenhum sentido, se no
livro da lei é dito que todo homem e toda mulher é uma estrela, isso significa
que em termos mágico-filosóficos nós somos iguais independente de nosso sexo. Eu
acredito profundamente que a natureza do universo, por meio de sua comunicação simbólica,
tentou proteger as mulheres de falácias como essa. Se dermos um passeio pela
mitologia de todos os povos, encontraremos o sol como um ser ou deus masculino,
exceto pela mitologia nórdica, onde o Sol, Sunna, é uma deusa e não um deus. Não
existem erros na natureza, mesmo na natureza psíquica ou no inconsciente
coletivo como um todo e acredito e defendo piamente, que Sunna é uma prova da
lei que diz que todo homem e toda mulher é uma estrela.
A ciência e a psicologia veio
compreender a nossa androginia, independente do nosso órgão genital, estudos
comprovaram que o cérebro tanto do homem quanto da mulher é masculino e
feminino, e tentaram usar desse paradigma para compreender o homossexualismo. Jung
falou muito claramente sobre Animus e Anima, nossa contraparte feminina para
homens e masculina para as mulheres e como o não desenvolvimento desse
arquétipo pode nos influenciar como um todo de forma altamente prejudicial em
termos do equilíbrio da psique.
Como Thelemita, procurei ir a
fundo nesse tema, tentando responder para mim mesma porque isso me incomoda tão
profundamente. Está certo que não foi muito agradável ouvir de determinadas
pessoas de minha própria linhagem que minha “reação era emocional e que isso se
dava pelo fato de ser mulher” (?!), quando obviamente se me conhecesse como
realmente sou ou se fosse um homem em meu lugar, a questão seria conduzida de
outra forma e não me culpando pelo fato de ter uma vagina. Mas, vejo essa
concepção algo mais cultural do que verdadeiro. Logo que acredito que o Aeon de
Hórus veio para nos libertar de uma escravidão e serventia que foi imposta para
mulheres desde milhares de anos. E não me admiro de ver as verdades sobre essa
cultura, onde um homem ainda é mais bem pago do que uma mulher, ou mesmo
políticos brasileiros incitando a discriminação afirmando que um empresário tem
o direito de não admitir uma mulher, porque ela pode engravidar durante o
emprego e ele ter que perder dinheiro por causa disso, logo que a constituição
dá o direito à mulher de ficar alguns meses em casa para se recuperar do parto.
Não sei se essa revolução feminista foi realmente algo de se orgulhar, como ter
direito ao trabalho, ao voto e ao estudo, pois que embora isso tenha sim sido
magnífico, a mulher se vê numa carga de trabalho ainda maior, logo que além de
profissional ela tem de ser mãe, administrar a casa, criar os filhos e caminhar
à sombra dos resquícios culturais do Aeon anterior. E no fim do dia dizer para si mesma que tem de provar o seu valor e sua razão.
Esse Aeon ainda é uma criança e
por isso ainda estamos suscetíveis a viver à sombra do Velho Aeon, mas
particularmente, numa filosofia onde Nuit e Babalon são exaltadas e a busca
pela nossa própria natureza é o centro de nosso culto, tal influência cultural
tornam irmãos tão cegos ao fato de que TODO HOMEM E TODA MULHER É UMA ESTRELA,
que me admira ter que escrever sobre isso. Sim, existe Rá, existe Hélio, Apolo,
Baldr, Hórus, mas também existe Sunna e isso com certeza não foi uma ausência
de compreensão ou loucuras de povos “bárbaros”, mas um modo que a natureza
encontrou para afirmar esta lei. Não é
apenas uma questão de ser emocionalmente tomada e agir indiscriminadamente sem
qualquer tipo de reflexão, mas uma constatação de que o Feminino está tão
ferido, que depende tanto de homens quanto de mulheres para curar tais feridas.
“Neste século, os Mistérios
Ocidentais produziram professoras como Dion Fortune, Ann Davies, Phyllis Seckler,
Melita Denning, e outras menos conhecidas mulheres cheias de sabedoria,
entendimento, compaixão, força e luz. Em princípio, estes mistérios há muito
tempo “suportavam a admissão de ambos os sexos, para a nossa Ordem, em uma
perfeita igualdade”, mas que “a igualdade perfeita” raramente tem sido perfeita
na prática. Talvez a nossa pequena decisão editorial e estas observações
presentes abriram as portas um pouco mais. Não adianta falar e escrever sobre
magia, se não usarmos as nossas palavras, bem como, na verdade, para realizar
magia – na verdade para curar, livremente, a nós mesmos e ao nosso mundo.” –
James Eshelman.
Dado ao delicado ponto deste
ensaio ouso dizer que embora seja entendido que tais conquistas devem ser
conquistada por cada mulher, também é de extremo significado a conscientização
do homem sobre sua própria Anima, ou a mulher dentro dele mesmo, que assim como
nós precisa ser curada. Como Eshelman disse: “As imagens mentais que nós
formulamos e mantemos definem os parâmetros do nosso mundo e de nossas ações,
pensamentos, sentimentos e fala nesse mundo. Somente através da inclusão verbal
explícita das mulheres em nossa visão de mundo que podemos curar dentro de cada
um de nós individualmente, e todos nós coletivamente, a indiferença, se não a
supressão pura e simples, do feminino.”.
Amor é a lei.